PODE SER SEM TÍTULO?

Ai, meu Deus!

Dias e dias de céu cinza e chuva, muita chuva, Sou meio sazonal e depois de dois dias seguidos, começo a ficar intimista e reflexiva.. Nada de deprê, sou muito riso solto para isso, mas que a alma fica ressabiada, olhando o mundo meio cabreira... ah! Isso fica.

Começa a novela novamente, mandei as fotos do casal concluído para a noiva e nada de retorno.

Já me acostumei com elas. Tem aquelas que quando você abre o e-mail encontra exclamações ruidosas: “Incrível! Perfeitos! Os mais lindos!!!!”

Outras que dizem apenas que estão bons. E chega! Tudo bem, pelo menos.

E tem as que passam uma semana mostrando para os parentes e amigos, pedindo opinião para só depois retornar e perguntar se não pode mexer nisso e aquilo. Isso e aquilo é a mesma coisa que a opinião de um e outro.

Você fica esperando, todo dia abrindo o e-mail, frustação enorme.

Elas não poderiam simplesmente escrever: Recebi, não sei se gostei, está em análise e em breve darei retorno?

Pois, é. Estranho o mundo dos artistas. Qualquer tipo de arte.

Convivi por longos anos com bailarinos. Uns hoje muito famosos, atuando no exterior, verdadeiras estrelas...mas de que céu?

Outros que nunca saíram do Brasil, não se tornaram figuras expressivas, apenas  premiações nos festivais nacionais e excelentes professores em academias... mas que também se sentem estrelas, expoentes  no mundo da dança...

Mas que mundos são esses?

 Lembro de  Bertha Rosanova, primeira bailarina do Teatro Municipal, diretora do mesmo, ela sim, totalmente internacional, teve como companheiros de palco, mundo afora, os maiores nomes da dança...

Bertha foi considerada bailarina absoluta... isso quer dizer perfeita!

Nós duas sentadas em sua sala, na casa em Laranjeiras, copo de suco numa mesinha, ela me contando causos e casos de sua juventude, falando principalmente e com muita mágoa de um Brasil sem memória cultural.

Segurando meu pé em suas mãos e dizendo que lindo pé eu tinha, que ponta perfeita, que pena que não tinha sido bailarina clássica... gostaria de ter sido, se fosse ela minha mestre.

Pois é?

E quantos conhecem Bertha Rosanova?

“Bertha Rozenblat mais conhecida pelo seu nome artístico Bertha Rosanova (Santos, 31 de agosto de 1930 - Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2008^[1]) foi uma bailarina brasileira.

Bertha Rozenblat recebeu de Eugenia Feodorova o nome artístico Bertha Rosanova. Iniciou os estudos de ballet na Escola de Danças do Teatro Municipal do Rio de Janeiro criada por Maria Olenewa, aos oito anos de idade.

Revelando enorme precocidade, Bertha ingressou no Corpo de Baile Oficial do Teatro Municipal do Rio de Janeiro aos 13 anos e despontou como a primeira bailarina do Teatro Municipalaos 15 anos. Em 1959, trouxe para o Rio o ballet “Lago dos Cisnes”, celebrando a primeira apresentação da versão completa da peça em todas as Américas ^[2]. Bertha recebeu o título de primeira bailarina absoluta, título exclusivo de artistas considerados perfeitos, e inédito no ballet brasileiro.”

Só o pessoal da dança, na verdade, os mais antigos. A nova safra irá franzir a testa numa expressão de estouconfusanãoseibemqueméseráquesoualgumadesinformadababaca?

Porque não existe a tal memória cultural que Bertha tão ressentida reclamou.

Eu a reverenciei. Como todos aqueles detentores de grande conhecimento e capacidade. Os artistas de alma!

Bem, parou a chuva e apareceu um pedaço de céu azul.  Céu que abriga estrelas. Como Bertha!

Vou esperar minha noiva.

Talvez ela até lá consiga ver o capricho da peça, a delicadeza, e lembre que não faço réplica de rostos... geralmente este é o problema. Eu aviso.

E vou me situando neste nosso mundinho, tomando cuidado..

Gosto de lembrar que só existo para outros que fazem a mesma coisa que eu e para quem vai casar, noivas que nos procuram em meio a uma “cotação”, onde o preço e qualidade nem sempre tem valor e peso iguais.

Os elogios são maravilhosos como representação de carinho e uma constatação de que o trabalho está no caminho certo...

Porque se não for assim, seria apenas alimento para um ego inflamado e fora da realidade. 

O ego pode se tornar uma criança gorda e gulosa, aquela que enfia enormes bocados na boca e fica com as bochechas redondas, cheias, sem conseguir mastigar e engolir.

Vaidade engasga!

E será que minha noiva vai responder hoje?...